Arte, experiência e o sentido da vida.
- Brena Marques
- 13 de set. de 2019
- 3 min de leitura

O ser contemporâneo está regido pelo imediatismo, pela ausência do sentido de viver e pela incansável procura de se sentir bem e completo. Mas porque nos sentimos sempre tão tristes e perdidos na vida? Parece que estamos sempre correndo atrás de algo. É do sucesso profissional, da família perfeita, de uma aparência aceitável socialmente, ou de termos informações e opiniões sobre os mais variados temas. Então sempre estamos em movimento e constantemente atrasados para o próximo compromisso. Parece que não podemos parar porque isso nos faria nos sentirmos inúteis ou perdedores nessa eterna competição para ser um sucesso. “E por não podermos parar nada nos acontece” (LAROSSA). Atualmente não nos damos mais tempo e espaço por conta do apressamento da vida, pela procura da tão sonhada felicidade. Mas onde esse pensamento no futuro está nos levando? Já que quanto mais procuramos, aparentemente maior é esse nosso vazio de existir; uma ausência de vontade de viver.
Estamos cheio de informações, opiniões, anseios, mas porque estamos cada vez mais tristes e angustiados? Porque não temos mais experiência. Não nos tocamos ou nos atravessamos pelos acontecimentos. “A velocidade com que nos são dados os acontecimentos e a obsessão pela novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo moderno, impedem a conexão significativa entre acontecimentos” (LAROSSA). Larossa relata que muita coisa acontece, mas parece que é cada vez mais raro que algo NOS aconteça, toque-nos, transforme-nos. E qual o sentido da vida, se sequer nos permitimos parar para sermos atravessarmos por ela?! Estarmos disponíveis ao acaso, ao que nos acontece, ao que é experienciado, é fundamental para que consigamos dar conta da nossa existência, dando um sentido para a vida. Sentido esse nela mesma, no próprio ato de viver.
Segundo Fayga Ostrower o que nos toca, reflete antes as ordenações sensíveis do que somos. Segundo a artista é na criação, na experimentação, na arte, que podemos sentir e dar espaço para sermos tocado, compreendendo no sensível o que a vida nos lança. E é na criação que damos sentido. Nos encontros com a vida, nos acasos, nas experiências, é que encontramos o potencial criador. A fonte de criatividade artística é o próprio viver. Ou seja, é na vida que damos sentido à ela mesma, nos recriamos e buscamos a potência da nossa existência.
Nietzsche pensa a vida como vontade criadora, vontade de potência. Sendo a arte a sua criação para a vida, pois ela é fundamental para o movimento da vida. A criação então seria necessária para uma constante produção da vida. A criação é constante e ininterrupta e com ela, podemos estar efetivando novas possibilidades de existir. Assim, seria na disponibilidade e na criação que damos sentido a nós mesmos. E a arte como experiência e como poética de viver é um potencializador para esse sentido da existência. Criar é uma atividade ininterrupta e é uma forma de novas possibilidades de existir. Vale lembrar que criar não significa necessariamente pintar, escrever ou modelar algo, mas de inventar, de se reinventar, de experimentar, de agir, de dar novo sentido à vida, de sentir “é vontade de vir-a-ser, crescer, dar forma, isto é, criar e nos criar está incluso o destruir”. E é na criação que conseguimos novas possibilidades. A falta de sentido, possibilidades e de possíveis soluções para problemas da vida, estão relacionados a falta de capacidade criadora. Não há vida sem criação. E a experimentação da arte pode fazer com que você se experimente, sinta-se, veja-se, dando margem a cri(ação) de si e do mundo.
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